No início do livro de Atos, logo após a ressurreição de Jesus, os discípulos ainda tinham dúvidas sobre o propósito do Messias e o cumprimento das profecias a respeito do Reino de Deus. No estudo de Atos 1:6, lemos:
“Aqueles, pois, que se haviam reunido perguntaram-lhe, dizendo: Senhor, restaurarás tu neste tempo o reino a Israel?” (Atos 1:6, ARC).
Essa pergunta revela a expectativa dos discípulos de que Jesus estabelecesse um reino terreno para restaurar a glória de Israel. Durante séculos, os judeus aguardavam um Messias que os libertaria do domínio estrangeiro e restauraria o governo davídico. Assim, mesmo após presenciarem a ressurreição de Cristo, eles ainda enxergavam a promessa divina sob uma perspectiva política e nacionalista.
No entanto, o plano de Deus para a redenção da humanidade era muito maior do que apenas a restauração de um reino terreno. A resposta de Jesus nos versículos seguintes mostra que o Reino de Deus não se limita a uma nação específica, mas envolve a salvação de todas as pessoas, guiadas pelo Espírito Santo.
Este tema também nos remete ao significado do Salmo 145:13, que declara:
“O teu reino é um reino eterno; o teu domínio dura em todas as gerações.” (Salmo 145:13, ARC).
Enquanto os discípulos pensavam em um governo temporário, Jesus falava de um reino eterno, que transcende fronteiras e alcança todos os povos. No final deste artigo, explicaremos melhor essa conexão entre Atos 1:6 e o Salmo 145, demonstrando como a realeza de Deus se manifesta além das expectativas humanas.
A partir dessa pergunta dos discípulos, aprendemos que, muitas vezes, buscamos respostas imediatas para nossas preocupações terrenas, enquanto Deus tem um propósito muito maior. A continuação deste estudo mostrará como Jesus direcionou seus seguidores para uma missão espiritual que transformaria o mundo.

A Restauração do Reino a Israel na Visão dos Discípulos
A pergunta dos discípulos em Atos 1:6 revela um anseio profundo por uma restauração política e nacional de Israel. Durante séculos, o povo judeu viveu sob o domínio de diferentes impérios, como a Babilônia, a Pérsia, a Grécia e, no tempo de Jesus, o Império Romano. Diante disso, a esperança messiânica estava diretamente associada à libertação de Israel e ao restabelecimento de um governo próprio, semelhante ao que existia nos dias de Davi e Salomão.
No Antigo Testamento, muitas profecias apontavam para a vinda de um rei ungido por Deus. Isaías 9:6-7 descreve essa expectativa:
“Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu; e o principado está sobre os seus ombros; e se chamará o seu nome: Maravilhoso, Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz. Do incremento deste principado e da paz não haverá fim, sobre o trono de Davi e no seu reino, para o firmar e o fortificar com juízo e com justiça, desde agora e para sempre; o zelo do Senhor dos Exércitos fará isso.” (Isaías 9:6-7, ARC).
Os discípulos interpretavam essa promessa de forma literal, esperando que Jesus estabelecesse um governo físico e derrubasse o domínio romano. Essa visão era reforçada por profecias como a de Jeremias 23:5, que diz:
“Eis que vêm dias, diz o Senhor, em que levantarei a Davi um Renovo justo; e, sendo rei, reinará, e prosperará, e praticará o juízo e a justiça na terra.” (Jeremias 23:5, ARC).
Diante desse pano de fundo, quando os discípulos perguntaram: “Senhor, restaurarás tu neste tempo o reino a Israel?” (Atos 1:6, ARC), eles estavam manifestando essa expectativa milenar. Entretanto, a resposta de Jesus no versículo seguinte demonstraria que o Reino de Deus não se limitava a um governo terrestre, mas era algo muito mais amplo, que se manifestaria por meio do poder do Espírito Santo e da expansão do Evangelho a todas as nações.
Com isso, percebemos que, muitas vezes, o entendimento humano sobre os planos de Deus é limitado pela nossa visão terrena. Os discípulos precisavam compreender que a restauração prometida por Deus não se referia apenas a Israel, mas a toda a humanidade, inaugurando um reino espiritual que transformaria vidas e atravessaria gerações.
A Resposta de Jesus em Atos 1:7 e Seu Significado
Após a pergunta dos discípulos registrada em Atos 1:6, Jesus respondeu com uma afirmação que redefine o foco da expectativa messiânica:
“E disse-lhes: Não vos pertence saber os tempos ou as estações que o Pai estabeleceu pelo seu próprio poder.” (Atos 1:7, ARC).
Essa resposta mostra que a preocupação central dos discípulos estava na restauração política de Israel, mas Jesus os direciona para uma realidade mais profunda. O Senhor deixa claro que os tempos e estações estão sob a soberania de Deus e que não cabia a eles tentar descobrir quando e como isso aconteceria.
Essa mesma ideia aparece em outras passagens das Escrituras, como em Deuteronômio 29:29, onde está escrito:
“As coisas encobertas são para o Senhor, nosso Deus, porém as reveladas são para nós e para nossos filhos, para sempre, para cumprirmos todas as palavras desta lei.” (Deuteronômio 29:29, ARC).
Jesus ensina que há aspectos do plano divino que não foram revelados ao ser humano, pois pertencem exclusivamente ao Pai. Assim, em vez de ficarem preocupados com a restauração política de Israel, os discípulos deveriam concentrar-se na missão que logo lhes seria confiada: testemunhar o evangelho até os confins da terra.
Além disso, a resposta de Cristo reforça um princípio essencial da fé cristã: a confiança na soberania de Deus. Muitas vezes, buscamos respostas imediatas para questões que fogem ao nosso entendimento, mas Jesus nos ensina que nem tudo nos será revelado no tempo presente. Como afirma Eclesiastes 3:1:
“Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu.” (Eclesiastes 3:1, ARC).
A partir dessa resposta, os discípulos precisavam compreender que a vinda do Reino de Deus não estava ligada a uma restauração nacional imediata, mas sim a um plano muito maior, que envolvia a propagação do evangelho a todas as nações. No próximo tópico, veremos como essa missão se concretizaria através do poder do Espírito Santo, conforme Jesus revela em Atos 1:8.
O Papel do Espírito Santo e a Missão dos Discípulos
Após responder à pergunta dos discípulos em Atos 1:6, Jesus redireciona suas expectativas ao verdadeiro propósito do Reino de Deus. Em vez de uma restauração política imediata, Ele revela que seus seguidores teriam uma missão muito maior, capacitada pelo poder divino. Em Atos 1:8, Jesus declara:
“Mas recebereis a virtude do Espírito Santo, que há de vir sobre vós; e ser-me-eis testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judeia e Samaria e até aos confins da terra.” (Atos 1:8, ARC).
Essa afirmação marca um ponto crucial no Atos 1 6 estudo, pois mostra que a prioridade de Deus não era uma libertação política, mas o avanço espiritual do Evangelho. Jesus deixa claro que a vinda do Espírito Santo seria a fonte do poder necessário para cumprir essa missão, e não um exército humano ou estratégias políticas.
O Espírito Santo: A Fonte do Poder para a Igreja
Antes de sua ascensão, Cristo instruiu os discípulos a aguardarem a promessa do Pai, conforme descrito em Atos 1:4-5:
“E, estando com eles, determinou-lhes que não se ausentassem de Jerusalém, mas que esperassem a promessa do Pai, que (disse ele) de mim ouvistes. Porque, na verdade, João batizou com água, mas vós sereis batizados com o Espírito Santo, não muito depois destes dias.” (Atos 1:4-5, ARC).
A promessa do Espírito Santo já havia sido anunciada por Jesus em diversas ocasiões. Em João 14:26, Ele disse:
“Mas aquele Consolador, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas e vos fará lembrar de tudo quanto vos tenho dito.” (João 14:26, ARC).
Com a vinda do Espírito Santo no dia de Pentecostes (Atos 2), os discípulos foram revestidos de poder para cumprir o chamado de Cristo. O Espírito Santo não apenas lhes deu coragem e ousadia, mas também os guiou na propagação da mensagem do Evangelho.
A Missão dos Discípulos: Testemunhar até os Confins da Terra
Jesus traçou um plano de expansão do Evangelho, começando por Jerusalém, passando por toda a Judeia e Samaria, e chegando aos confins da terra. Esse modelo demonstra que o Reino de Deus não se limitava a Israel, mas deveria alcançar todas as nações.
Esse princípio se conecta diretamente ao Salmo 67:2, que diz:
“Para que se conheça na terra o teu caminho, e entre todas as nações a tua salvação.” (Salmo 67:2, ARC).
Os discípulos, agora investidos do poder do Espírito Santo, foram enviados para transformar o mundo por meio da pregação e do testemunho. Esse mesmo chamado continua sendo relevante para a Igreja nos dias de hoje, pois a mensagem do Evangelho deve alcançar todos os povos, cumprindo o propósito estabelecido por Cristo.
No próximo tópico, veremos como a resposta de Jesus em Atos 1:6-8 impactou a Igreja Primitiva e continua influenciando os cristãos até hoje.
O Impacto de Atos 1:6-8 na Igreja Primitiva e nos Dias de Hoje
O estudo de Atos 1:6 nos ajuda a compreender como a perspectiva dos discípulos sobre o Reino de Deus foi transformada. Inicialmente, eles esperavam uma restauração política de Israel, mas Jesus revelou que o propósito do Pai era muito maior. Com a descida do Espírito Santo em Pentecostes, os seguidores de Cristo foram capacitados para espalhar o Evangelho, estabelecendo a Igreja Primitiva e dando início a um movimento que mudaria a história.
O Impacto na Igreja Primitiva
Após receberem o Espírito Santo, os discípulos passaram a testemunhar com ousadia, e o Reino de Deus começou a se expandir rapidamente. O próprio livro de Atos documenta essa transformação:
- Pedro, antes temeroso, pregou com poder e converteu cerca de três mil pessoas em um único dia (Atos 2:41).
- Estêvão, cheio do Espírito Santo, tornou-se o primeiro mártir cristão, demonstrando a profundidade da fé que o Evangelho gerava nos corações (Atos 7:55-60).
- Saulo, perseguidor dos cristãos, teve um encontro com Cristo e se tornou Paulo, um dos maiores missionários do cristianismo (Atos 9:3-6).
A missão delineada em Atos 1:8 se cumpriu gradualmente. O Evangelho começou em Jerusalém, espalhou-se pela Judeia e Samaria, e alcançou os confins da terra, chegando a lugares como Roma e além. Isso mostra que o Reino de Deus não estava preso a uma restauração geopolítica de Israel, mas era um movimento espiritual que transformaria o mundo.
O Impacto nos Dias de Hoje
O estudo de Atos 1:6 ainda tem implicações profundas para a Igreja atual. Assim como os discípulos receberam o Espírito Santo para testemunhar, os cristãos de hoje também são chamados a continuar essa missão. O Evangelho precisa ser pregado em todas as nações, e a obra do Espírito Santo continua capacitando a Igreja para esse propósito.
Essa verdade se conecta diretamente ao Salmo 145:13, citado no início deste artigo:
“O teu reino é um reino eterno; o teu domínio dura em todas as gerações.” (Salmo 145:13, ARC).
Enquanto os discípulos esperavam uma restauração terrena e temporária, Deus já havia estabelecido um reino eterno, cujo impacto transcende gerações. Esse Reino não é limitado por fronteiras geográficas ou políticas, mas é manifestado na vida daqueles que seguem a Cristo.
Assim como os discípulos foram transformados pela resposta de Jesus em Atos 1:7-8, os cristãos de hoje devem compreender que a maior missão da Igreja não é buscar respostas sobre tempos e estações, mas ser testemunhas do Reino de Deus em todo o mundo. Através do poder do Espírito Santo, essa missão continua até que todas as nações conheçam a salvação que vem do Senhor.
Dessa forma, Atos 1:6 estudo nos ensina que, mais importante do que compreender o futuro, é viver o presente segundo a vontade de Deus, confiando que Seu Reino já está em ação e se manifestará plenamente no tempo determinado pelo Pai.