Na Bíblia, o Sheol é um dos termos mais enigmáticos relacionados ao destino dos mortos. Presente no Antigo Testamento, essa palavra hebraica é frequentemente traduzida como “sepultura”, “mundo dos mortos” ou “profundezas”. Mas o que é Sheol na Bíblia? Para compreendê-lo, é essencial analisar o seu significado, as referências bíblicas e a maneira como era entendido pelos antigos hebreus.

Diferente da concepção moderna de inferno, o Sheol não é descrito como um local de tormento eterno, mas sim como a morada dos mortos, um lugar de silêncio e escuridão. No Salmo 88:3-4, o salmista expressa sua angústia ao mencionar esse local:

“Porque a minha alma está cheia de angústias, e a minha vida se aproxima da sepultura. Estou contado com aqueles que descem ao abismo; estou como homem sem forças.” (Salmos 88:3-4, ARC)

Aqui, “sepultura” traduz o termo Sheol, reforçando a ideia de que este era visto como o destino comum de todos os que faleciam, independentemente de sua justiça ou iniquidade.

A Bíblia frequentemente descreve o Sheol como um lugar onde os mortos descansam sem consciência do que acontece no mundo dos vivos. No Eclesiastes 9:10, lemos:

“Tudo quanto te vier à mão para fazer, faze-o conforme as tuas forças, porque no além, para onde tu vais, não há obra, nem indústria, nem ciência, nem sabedoria alguma.” (Eclesiastes 9:10, ARC)

Esse versículo reforça a visão hebraica de que a morte leva a um estado de inatividade, onde não há ações ou conhecimento.

Além disso, o conceito do Sheol está presente em diversos Salmos, onde os autores clamam a Deus por livramento desse destino. O significado do Salmo 16:10 expressa essa esperança:

“Pois não deixarás a minha alma no inferno, nem permitirás que o teu Santo veja corrupção.” (Salmos 16:10, ARC)

Essa passagem, posteriormente citada no Novo Testamento em referência à ressurreição de Jesus, sugere que o Sheol não é um lugar definitivo, mas um estado do qual Deus pode resgatar seus fiéis.

Dessa forma, o entendimento do Sheol na Bíblia é fundamental para compreender a visão bíblica sobre a morte e o que acontece depois dela.

Nos próximos tópicos, exploraremos mais detalhadamente como o Sheol é descrito ao longo das Escrituras, sua relação com Hades e Geena e o destino dos justos e ímpios segundo a revelação bíblica.

O Que é Sheol na Bíblia
O Que é Sheol na Bíblia

Sheol no Antigo Testamento: Como é Descrito nas Escrituras?

O Sheol no Antigo Testamento é mencionado diversas vezes como o lugar para onde todos os mortos vão, sem distinção entre justos e ímpios. Ele é descrito como uma região profunda, sombria e silenciosa, onde os mortos permanecem em um estado de inatividade.

No livro de Jó 10:21-22, vemos uma descrição clara do Sheol:

“Antes que eu vá para o lugar de que não voltarei, à terra de escuridão e de sombra de morte; terra de escuridão, como a própria escuridão; terra da sombra da morte, sem ordem alguma, e onde a luz é como a escuridão.” (Jó 10:21-22, ARC)

Essa passagem reforça a ideia de que o Sheol é um local onde reina a escuridão e a ausência de vida ativa. É um destino universal, para onde todas as pessoas vão após a morte.

Outro aspecto interessante sobre o Sheol no Antigo Testamento é que ele não é descrito como um lugar de sofrimento eterno, mas como uma espécie de “morada dos mortos”. O rei Davi menciona o Sheol no Salmo 6:5, ao dizer:

“Porque na morte não há lembrança de ti; no sepulcro, quem te louvará?” (Salmos 6:5, ARC)

Esse versículo indica que aqueles que desciam ao Sheol não tinham consciência ou interação com o mundo dos vivos. A ideia de que os mortos não louvam a Deus reforça a noção de que o Sheol era um lugar de silêncio e esquecimento.

Além disso, o Sheol no Antigo Testamento também é associado ao julgamento divino em alguns contextos. Em Números 16:30-33, vemos o episódio de Corá e seus seguidores, que foram tragados vivos para o Sheol como um castigo de Deus:

“Mas, se o Senhor criar alguma coisa nova, e a terra abrir a sua boca, e os tragar com tudo o que é seu, e vivos descerem ao abismo, então conhecereis que esses homens irritaram ao Senhor. (…) E a terra abriu a sua boca e os tragou com as suas casas, como também a todos os homens que pertenciam a Corá, e a toda a sua fazenda. E eles e tudo o que era seu desceram vivos ao abismo; e a terra os cobriu, e pereceram do meio da congregação.” (Números 16:30-33, ARC)

Essa passagem mostra que, em certos casos, o Sheol podia representar o juízo imediato de Deus sobre os ímpios.

Portanto, o Sheol no Antigo Testamento é retratado como um local de escuridão, silêncio e inatividade, onde os mortos aguardam o desfecho final determinado por Deus. No próximo tópico, veremos a relação entre o Sheol e o Hades, um termo usado no Novo Testamento para descrever o estado dos mortos.

Sheol e Hades: Qual a Relação entre Esses Conceitos?

O Sheol e Hades são dois termos que aparecem na Bíblia para descrever o estado dos mortos, mas há diferenças importantes entre eles. O Sheol é um conceito do Antigo Testamento, enquanto o Hades é um termo grego encontrado no Novo Testamento. Ainda assim, há uma relação entre esses conceitos, pois ambos se referem ao local onde os mortos permanecem antes do juízo final.

Quando os autores da Septuaginta (a tradução grega do Antigo Testamento) traduziram as Escrituras Hebraicas, o Sheol foi frequentemente traduzido como “Hades”. Isso mostra que, na compreensão judaica e grega, os dois termos tinham significados semelhantes. No entanto, com o avanço da revelação bíblica, o Hades passou a ser descrito com mais detalhes no Novo Testamento, especialmente por Jesus e os apóstolos.

Um dos exemplos mais conhecidos da relação entre Sheol e Hades está na parábola do rico e Lázaro, contada por Jesus em Lucas 16:22-23:

“E aconteceu que o mendigo morreu e foi levado pelos anjos para o seio de Abraão; e morreu também o rico, e foi sepultado. E, no inferno, ergueu os olhos, estando em tormentos, e viu ao longe Abraão e Lázaro no seu seio.” (Lucas 16:22-23, ARC)

O termo “inferno” nessa passagem é a tradução da palavra Hades, que aqui aparece como um lugar dividido: uma parte de descanso para os justos (o seio de Abraão) e uma parte de sofrimento para os ímpios. Esse detalhe não é tão evidente no conceito original do Sheol no Antigo Testamento, mas reforça a ideia de que o Hades é uma ampliação da compreensão sobre o destino dos mortos.

Outra passagem que faz essa conexão entre Sheol e Hades está em Atos 2:27, onde Pedro cita o Salmo 16:10 ao falar sobre a ressurreição de Jesus:

“Pois não deixarás a minha alma no inferno, nem permitirás que o teu Santo veja corrupção.” (Atos 2:27, ARC)

Aqui, “inferno” traduz Hades, o equivalente ao Sheol no Antigo Testamento. Essa profecia, originalmente mencionada por Davi, aponta para a vitória de Cristo sobre a morte, garantindo que Ele não permaneceria no estado dos mortos, mas ressuscitaria.

Portanto, a relação entre Sheol e Hades mostra uma continuidade no ensino bíblico sobre o destino dos mortos. No Antigo Testamento, o Sheol era visto como a morada dos mortos, sem uma separação clara entre justos e ímpios. No Novo Testamento, essa visão é ampliada com o conceito de Hades, que já antecipa uma distinção entre aqueles que estão em descanso e aqueles que estão em tormento.

Nos próximos tópicos, veremos como os justos e os ímpios são retratados nesses lugares e qual será o destino final de cada um segundo as Escrituras.

O Destino dos Justos e dos Impios no Sheol

O destino dos justos e dos ímpios no Sheol tem sido um tema de reflexão ao longo das Escrituras. No Antigo Testamento, o Sheol é descrito como o local para onde todos os mortos iam, independentemente de serem justos ou pecadores. No entanto, há indícios de que o destino dos justos e dos ímpios no Sheol não era o mesmo, pois algumas passagens sugerem que Deus faz distinção entre aqueles que viveram em obediência e aqueles que se afastaram de Seus caminhos.

Em Salmos 49:14-15, encontramos uma referência à diferença entre o destino dos justos e dos ímpios:

“Como ovelhas, são lançados na sepultura; a morte os consumirá, e os retos terão domínio sobre eles pela manhã; e a sua formosura se consumirá na sepultura, a habitação deles. Mas Deus remirá a minha alma do poder da sepultura, pois me receberá.” (Salmos 49:14-15, ARC)

Esse trecho sugere que, enquanto os ímpios permanecem na sepultura sem esperança, os justos têm a promessa da redenção por parte de Deus. Isso indica que o Sheol não é um destino final para os fiéis, mas sim um estado transitório antes da ressurreição e do julgamento de Deus.

Outro exemplo que mostra a diferença no destino dos justos e dos ímpios no Sheol está no Salmo 9:17:

“Os ímpios serão lançados no inferno, e todas as nações que se esquecem de Deus.” (Salmos 9:17, ARC)

Aqui, a palavra traduzida como “inferno” é Sheol, demonstrando que os ímpios serão entregues a um estado de morte e afastamento de Deus. Enquanto isso, os justos são frequentemente descritos como aqueles que esperam na promessa da vida eterna.

A ideia de que os justos e os ímpios no Sheol possuem destinos distintos também aparece no Novo Testamento, onde o Sheol passa a ser associado ao Hades, um local dividido entre descanso e sofrimento. A parábola do rico e Lázaro em Lucas 16:22-23 reforça essa separação:

“E aconteceu que o mendigo morreu e foi levado pelos anjos para o seio de Abraão; e morreu também o rico, e foi sepultado. E, no inferno, ergueu os olhos, estando em tormentos, e viu ao longe Abraão e Lázaro no seu seio.” (Lucas 16:22-23, ARC)

Esse relato de Jesus mostra que, enquanto o justo (Lázaro) é consolado, o ímpio (o rico) sofre tormentos. Essa é uma ampliação do conceito original do Sheol no Antigo Testamento, que apenas indicava a morada dos mortos sem maiores detalhes sobre um estado de sofrimento ou descanso.

Portanto, o ensino bíblico sugere que, embora todos os mortos descessem ao Sheol, os justos tinham a esperança da redenção, enquanto os ímpios enfrentavam um destino de afastamento e juízo. Nos próximos tópicos, exploraremos como a ressurreição e o juízo final determinam o destino definitivo de cada um, e como Cristo trouxe luz à compreensão sobre a vida após a morte.

O Sheol e a Ressurreição: O Que Acontece Depois?

A pergunta sobre o que acontece depois do Sheol é fundamental para a compreensão bíblica da vida após a morte. No Antigo Testamento, o Sheol é retratado como um estado temporário, uma morada dos mortos onde justos e ímpios aguardam o desfecho final determinado por Deus. No entanto, as Escrituras apontam para uma ressurreição futura, na qual os mortos serão chamados à vida para receberem a recompensa ou o juízo.

O Salmo 16:10, que citamos anteriormente, já sugere essa esperança de ressurreição ao afirmar:

“Pois não deixarás a minha alma no inferno, nem permitirás que o teu Santo veja corrupção.” (Salmos 16:10, ARC)

Esse versículo, além de expressar a confiança do salmista, também é uma profecia sobre a ressurreição de Jesus, conforme interpretado em Atos 2:27. A vitória de Cristo sobre a morte confirmou a promessa de que o Sheol não seria o destino final daqueles que pertencem a Deus.

A ideia de ressurreição não é exclusiva do Novo Testamento. No livro de Daniel, há uma referência direta ao destino final dos mortos:

“E muitos dos que dormem no pó da terra ressuscitarão, uns para a vida eterna, e outros para vergonha e desprezo eterno.” (Daniel 12:2, ARC)

Essa passagem deixa claro que o Sheol não é o fim, mas sim uma etapa antes da ressurreição. Aqueles que pertencem a Deus serão ressuscitados para a vida eterna, enquanto os que rejeitaram a verdade enfrentarão o juízo divino.

No Novo Testamento, Jesus reforça esse ensinamento ao dizer em João 5:28-29:

“Não vos maravilheis disso, porque vem a hora em que todos os que estão nos sepulcros ouvirão a sua voz. E os que fizeram o bem sairão para a ressurreição da vida; e os que fizeram o mal, para a ressurreição da condenação.” (João 5:28-29, ARC)

Aqui, Jesus confirma a divisão do destino final entre justos e ímpios. Os justos, que confiaram em Deus, receberão a vida eterna, enquanto os ímpios enfrentarão a condenação.

Portanto, o Sheol, que no Antigo Testamento parecia ser um destino final, é revelado como um estado transitório à luz da ressurreição. A promessa da redenção mostra que o poder da morte não é absoluto, pois Deus tem autoridade sobre a vida e a eternidade.

A Relação Entre o Sheol e o Salmo 16

No início deste artigo, citamos o Salmo 16:10 para destacar que o Sheol não era um lugar definitivo para os justos. Esse mesmo versículo foi citado por Pedro no Novo Testamento para falar da ressurreição de Cristo (Atos 2:27), demonstrando que Jesus venceu a morte e abriu o caminho para a ressurreição dos fiéis.

Isso significa que, assim como Deus não deixou Jesus na morte, Ele também promete resgatar aqueles que pertencem a Ele. O Salmo 16, portanto, reforça a esperança na ressurreição e na vitória sobre o Sheol, confirmando que o destino dos justos não é a sepultura eterna, mas a vida eterna na presença de Deus.

Rolar para cima